O Open Banking veio redefinir a forma como as pessoas e empresas acessam serviços financeiros, trazendo ao centro do debate a ideia de cooperação e transparência entre instituições.
Regulado desde 2020, esse modelo de compartilhamento de dados permite que clientes decidam quais informações desejam compartilhar, unindo segurança e inovação em um ecossistema dinâmico.
Contexto Histórico e Regulamentação
O Open Banking, conhecido no Brasil como Open Finance, foi instituído pela Resolução Conjunta nº 1/2020 do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional.
Essa normatização estabeleceu padrões para integração de sistemas de instituições financeiras, promovendo um ambiente mais competitivo e diversificado.
Os princípios basilares da regulação incluem incentivo à inovação, promoção da concorrência, fortalecimento da cidadania financeira e elevação do nível de eficiência do sistema de pagamentos.
No entanto, ainda há uma lacuna regulatória no que tange à integração com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que exige diretrizes mais claras para harmonizar consentimento e segurança.
Cronograma de Implementação Gradual
Para garantir a adaptação e a confiabilidade do sistema, o compartilhamento de dados foi dividido em fases sequenciais com objetivos específicos.
- 1ª fase (30 nov. 2020): Divulgação de dados de produtos, serviços, canais de atendimento e contas de depósito.
- 2ª fase (31 mai. 2021): Compartilhamento de dados cadastrais de clientes e representantes.
- 3ª fase (30 ago. 2021): Iniciação de transações de pagamento e encaminhamento de propostas de crédito.
- 4ª fase (25 out. 2021): Inclusão de operações de câmbio, investimentos, seguros, previdência aberta e contas-salário.
Essa progressão permitiu que bancos e fintechs ajustassem seus sistemas de segurança e infraestrutura, incentivando testes controlados antes da ampliação geral.
O modelo gradual também estimulou a criação de mecanismos robustos de monitoramento de dados, fundamentais para a consolidação da confiança dos usuários.
Expansão e Participação Obrigatória
Originalmente, a participação obrigatória incluía apenas bancos múltiplos, comerciais, de investimento e caixas econômicas de grande porte.
Com a Resolução Conjunta nº 10, de 1º de julho de 2025, instituições com mais de 5 milhões de clientes ativos também passaram a integrar o ecossistema.
Isso ampliou o alcance para cerca de 95% de todos os relacionamentos financeiros no Brasil, somando mais de 220 milhões de vínculos e impactando cerca de 36 milhões de usuários.
Tal medida reforçou a competitividade, obrigando players tradicionais a aprimorar seus serviços e criando novas oportunidades para fintechs em nichos específicos.
Números e Métricas Atuais (2025)
O Open Finance brasileiro consolidou-se como o maior ecossistema regulado de compartilhamento de dados do mundo em apenas quatro anos, superando o Reino Unido.
No comparativo global, o Brasil possui quase quatro vezes o número de usuários conectados que o sistema britânico, com crescimento sete vezes mais rápido que o britânico nos últimos doze meses.
Casos de Uso e Resultados Práticos
Além de estimular a concorrência direta, o Open Banking gerou uma série de aplicações práticas que beneficiam consumidores e empresas.
- Operações de Crédito: Originação de R$ 31 bilhões, incluindo R$ 12 bilhões só no primeiro semestre de 2025, com fintechs participando ativamente.
- Gestão Financeira: 55 milhões de contas ativas em soluções de agregação, facilitando a visão consolidada do patrimônio.
- Investimentos: Mais de R$ 30 bilhões movimentados via Open Finance, com R$ 14 bilhões em seis meses.
- Notificações Inteligentes: Economia de R$ 16 milhões com alertas de uso de cheque especial.
- Portabilidade de Crédito: 62 mil operações concluídas, com 7 mil apenas no primeiro semestre de 2025.
- Portabilidade de Salário: 92 mil operações, sendo 44 mil no período de janeiro a junho.
- Iniciação de Pagamentos: R$ 1,3 bilhão em transações internas e R$ 300 milhões entre diferentes titulares.
Esses resultados comprovam que o compartilhamento de dados tem impacto significativo na eficiência e na diversificação de produtos financeiros.
Proteção de Dados e Consentimento
O respeito à privacidade dos usuários é pilar central do Open Banking. O compartilhamento só ocorre após a manifestação livre, informada, prévia e inequívoca de vontade.
As instituições devem implementar sistemas de autorização que permitam ao cliente revogar consentimentos a qualquer momento, garantindo controle sobre seus dados.
Além disso, é essencial que sejam adotados mecanismos de segurança cibernética avançados para proteção contra vazamentos, fraudes e ataques digitais.
A sinergia entre as regras do Banco Central e os preceitos da LGPD ainda representa um desafio, exigindo constantes ajustes regulatórios e tecnológicos.
Mudanças de Percepção e Futuro do Mercado
No início, muitas organizações viam o Open Finance como um obstáculo técnico. Com o tempo, reconheceu-se seu potencial como catalisador de oportunidades de negócios.
Essa transformação permitiu:
- Criação de produtos financeiros personalizados com base no perfil de consumo.
- Formação de parcerias estratégicas entre bancos tradicionais, fintechs e startups.
- Aprimoramento da experiência do cliente por meio de APIs mais inteligentes.
O lançamento de testes de portabilidade avançada para fevereiro de 2026 mostra que o ecossistema está em constante evolução.
Com novas funcionalidades e a progressiva inclusão de serviços financeiros, o Open Banking seguirá como força motriz de inovação no Brasil.
Considerações Finais
O Open Banking no Brasil atingiu marcos impressionantes e transformou a dinâmica do mercado financeiro em poucos anos.
Para sustentar esse progresso, é fundamental que instituições, reguladores e clientes colaborem, sempre priorizando a segurança, a privacidade e a qualidade dos serviços.
O equilíbrio entre inovação e proteção de dados será determinante para o futuro, garantindo que o ecossistema continue trazendo benefício real ao consumidor.
Com a consolidação de normas, a ampliação de participantes e a evolução tecnológica, o Brasil pode se tornar referência global em Open Finance, inspirando outras nações a seguir o mesmo caminho.